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Segundo a ONG Oxfam, mais de 80 % da riqueza criada no mundo em 2017 foi parar às mãos dos mais ricos, que são apenas 1 % da população mundial. Desde 2010 a riqueza dos multimilionários aumentou 13 % ao ano, em média, enquanto os salários dos trabalhadores só subiram 2 % anualmente. Mais de metade da população do globo tem um rendimento médio diário entre 1,6 e 8,1 euros.
Estes números chocantes evidenciam um problema gravíssimo. Problema antes de mais ético, mas também político e económico. Desigualdades desta ordem afectam o próprio crescimento económico: o aumento da riqueza dos multimilionários nada ou quase nada acrescenta ao consumo interno dos países, porque eles já têm tudo.
Um outro relatório (World Inequality Report 2018) conclui que os ricos estão mais ricos e os pobres um pouco menos pobres. A metade mais pobre das pessoas até viu o seu rendimento crescer significativamente nas últimas décadas, diz esse estudo. Só que a porção detida pelo tal 1 % (os mais ricos) cresceu duas vezes mais do que a dos 50 % mais pobres.
A nível mundial a globalização, tão malvista, tirou da miséria centenas de milhões de pessoas, sobretudo na China. Um facto que no Ocidente é frequentemente ignorado. Ouvem-se mais as queixas dos sindicatos, que lamentam a deslocalização de empresas e empregos para países de mão-de-obra barata. Mas a competição internacional com base nos baixos salários atinge apenas uma minoria de trabalhadores dos países ricos e, mais importante, está em permanente evolução: os salários chineses têm subido e já começaram as deslocalizações de empresas da China para países de mão-de-obra mais barata, como o Vietname.
Assim, pode dizer-se que o fosso entre países ricos e países pobres pelo menos não aumentou muito nos anos recentes. O que aumentou, e muitíssimo, é a disparidade da riqueza no interior dos países, entre uma pequena minoria cada vez mais rica e uma maioria com rendimentos quase estagnados.
Nos Estados Unidos, em 1980, os mais ricos detinham 12 % da riqueza, percentagem que recentemente excedia os 20 %. Entretanto, a classe média americana, habituada a melhorar de nível de vida praticamente todos os anos, desde por volta de 1970 sente que – em termos relativos, não absolutos – agora vive pior. E que os seus filhos, com níveis de escolarização superiores às da grande maioria dos pais, viverão pior do que eles próprios, algo psicologicamente difícil de digerir. Também o Médio Oriente, a Índia, a China e a África Subsariana registam crescentes disparidades de riqueza, com uma forte concentração desta em minorias.
Na Europa, as disparidades são menores, graças ao chamado “modelo social europeu”. Mas este modelo está financeiramente ameaçado, sobretudo por causa do envelhecimento da população. A natalidade europeia é baixa (em Portugal é baixíssima) e as pessoas vivem até mais tarde – o que é bom, mas implica cada vez mais custos com pensões de reforma e cuidados de saúde.
Em resumo, a concentração do património e dos rendimentos numa restrita elite de multimilionários constitui um dos mais graves problemas do século xxi.
FRANCISCO SARSFIELD CABRAL
Além-Mar Abril 2018